quarta-feira, 21 de novembro de 2012

CORINTHIANS



Em 1984, Corinthians embarcou para série de amistosos na Ásia. Frio, saudade de casa e até a língua atrapalharam o delegação alvinegra


Casagrande Corinthians 1984 (Foto: Agência Estado)Casagrande, em 1984, disse que não queria viajar
para o Japão com o Timão (Foto: Agência Estado)
O Corinthians faz sua estreia no Mundial de Clubes em dezembro, mas essa não será a primeira partida do clube em solo japonês. No início da década de 1980, época em que o futebol asiático ainda era um mistério para o resto do mundo, o Timão embarcou rumo ao Japão para uma série de três amistosos contra a seleção local. Frio, língua, má alimentação e saudade de casa foram só alguns dos problemas enfrentados pelos jogadores alvinegros que, mesmo 28 anos depois da aventura, ainda não esqueceram das histórias da estreia corintiana no país.
Bicampeão paulista, o elenco do Timão voltou de férias no início de janeiro e se reapresentou no próprio aeroporto de Congonhas para a temporada de 1984. A série de amistosos pela Ásia começaria pelo Japão, mas a equipe ainda passaria por Hong Kong, na China, Tailândia e Indonésia em um período de 15 dias de pré-temporada no exterior. Por pouco, no entanto, Casagrande não embarcou. Apaixonado pela namorada que havia acabado de conhecer nas férias, o ex-atacante teve que ser arrastado para o aeroporto.
– Foi uma tortura para mim, eu não queria ir para o Japão. Eu tinha passado as férias em Santos e conhecido minha ex-mulher lá. Comecei a namorar em dezembro, estava super apaixonado na praia, não queria voltar. Cheguei em casa às 16h no dia da viagem, e o avião partia às 20h. Tinham três peruas do Corinthians me esperando na porta, e a minha mãe ficava falando: “Fica do lado dele, que se não ele ficar não vai!”. Foi uma luta... – recordou Casagrande.
Foi uma tortura para mim, eu não queria ir para o Japão. Eu tinha passado as férias em Santos e conhecido minha ex-mulher lá. Não queria voltar"
Casagrande
Recém-contratado da Ponte Preta, o ex-goleiro Carlos foi recepcionado pelos companheiros e integrado ao grupo na própria sala de embarque, ainda em São Paulo. Após diversas escalas e uma viagem que durou cerca de um dia e meio, o Timão desembarcou no Japão. Mas a cabeça de Casagrande ainda estava no Brasil. Como o Corinthians vivia a época da democracia e todos no clube opinavam nas decisões internas do clube, a delegação convocou reuniões para decidir se o atacante voltaria ao país.
– Desci do avião e falei para o Adilson (então diretor de futebol) que queria voltar. Ele perguntou se eu estava louco: “acabamos de chegar e você quer voltar?”. Como era democracia, tivemos umas quatro reuniões sobre se eu voltaria ou não. Na última reunião, o Eduardo (ex-atacante) disse que fez essa mesma excursão com o Cruzeiro no dia seguinte da morte do pai. Aí eu fiquei, não teve jeito. Mas eles pagavam a diária e eu gastava tudo em telefone – completou Casagrande.
– O Casagrande estava invocado. Chegou lá muito triste, dava até umas cabeçadas na parede do quarto (risos). Eu zoava ele o tempo todo, ficava falando “você vai quebrar a cabeça assim!” – brincou o ex-volante Biro-Biro, outro jogador que entrou em campo nas três partidas disputadas no Japão naquele ano.
Casagrande, Sócrates, Carlos, Eduardo, Ataliba e Zenon, Mauro, Juninho, Edson, Biro Biro e Wladimir (Foto: Agência Estado)Time do Corinthians em 1984: em pé, Casagrande, Sócrates, Carlos, Eduardo Amorim, Ataliba e Zenon.
Agachados: Mauro, Juninho Fonseca, Edson, Biro-Biro e Wladimir (Foto: Agência Estado)
Neve e conhaque ‘para esquentar’
Sem treinar e completamente fora de ritmo, o Corinthians não foi bem no Japão. Dos três amistosos contra a seleção japonesa, perdeu dois e venceu somente um. O desempenho ruim, segundo os jogadores, teve um grande culpado: o frio. O Corinthians entrou em campo com neve e temperatura de sete graus negativos para a primeira partida, no Estádio Memorial, em Kobe, e acabou derrotado por 2 a 1 – gol de Sócrates. Biro-Biro entregou o segredo para conseguir superar condições tão adversas: um gole de café com conhaque.
– Estava frio para caramba, com gelo no campo, o pé ficava duro, congelado. Para correr estava complicado, tinha que tomar um café quente, pra ver se melhorava. Café com um pouquinho de conhaque... Tomava um gole e dava uma esquentada. O campo cheio de gelo dava dor no pé. Para correr foi duro, tinha que jogar de luva. No começo do jogo, até uns 20 minutos, foi complicado. Queríamos abrir a boca, mas eu não conseguia nem falar – disse.
A comida era mais doce que a nossa. Até o bife era doce. Tinha gente que levou latinha de feijão, umas misturas pra comer"
Biro-Biro
A alimentação também foi um problema, e alguns jogadores chegaram a levar comida do Brasil escondida na mala. Não deu nem para trazer muitas compras para casa, já que a língua impedia a comunicação. Os corintianos só conseguiram comprar quando estavam com o tradutor que acompanhava a delegação. No segundo amistoso, em Nagoia, o Timão venceu por 2 a 1 (gols de Casagrande e Jorginho), mas no terceiro despediu-se com derrota por 3 a 2 (gols de Sócrates e Biro-Biro), em Tóquio.
– A comida era mais doce que a nossa, até o bife. Tinha gente que levou latinha de feijão, umas misturas para comer. Era duro chegar e se comunicar no hotel. A gente usava sempre uma palavra que o tradutor nos falou, mas na hora esquecíamos, explicávamos com o dedo, mostrando que queríamos comer. Para comprar alguma coisa era duro pagar, enrolava tudo. Perguntávamos quanto custava, mas os japoneses não entendiam nada e nós também não. Tinha coisa que nem dava para comprar, só quando tinha o japonês. Tinha que levar ele junto – disse Biro-Biro.
– O Casagrande foi o cara da delegação. Ele fazia umas sacanagens, vestia umas máscaras japonesas e ficava assuntando quem tinha medo. Tirava sarro e assustava todo mundo. O time estava se formando, foi uma experiência legal. É um futebol diferente, muita correria por parte dos japoneses. Eu nunca tinha jogado na neve, é muito estranho. Você congela, os seus movimentos ficam limitados, é impressionante o quanto te afeta. Não tem adaptação – afirmou Zenon, ex-meia do Timão
.

Gauchão 2021

Grêmio vence Inter e leva vantagem na final do Gaúcho Para conquistar o título Estadual, o Internacional terá que vencer o confronto por doi...