Dia de festa para a seleção brasileira, nem tanto para os 62. 103 torcedores que lotaram a Arena Corinthians para a abertura da Copa do Mundo. A
vitória por 3 a 1 sobre a Croácia, nesta quinta-feira, teve pontos positivos e negativos para quem viveu o início da maior festa do futebol mundial. Em resumo, o antes e o depois foram mais tranquilos, apesar de a saída ter sido mais tumultuada. Já o durante... Problemas nas lanchonetes e banheiros foram as principais reclamações dos brasileiros na Arena. Um
apagão em parte dos refletores também tirou pontos do estádio.
A reportagem rodou por todos os setores do estádio, em seu entorno e também testou o transporte antes e depois do jogo. A uma hora do início de Brasil x Croácia, apenas uma lanchonete dos setores Leste e Sul vendia algo diferente de chocolates e pipoca. Lanches quentes acabaram, como hambúrgueres. Pelo menos três bares fecharam antes mesmo do intervalo do jogo.
- Não tem nada para comer. Meu filho quis um lanche, tive de comprar pipoca. É a única coisa disponível. É ridículo – lamentou a empresária Marcela Soares, de 28 anos.
Arena Corinthians: aprovada por fora, mas com diversas restrições na parte interna (Foto: AP)
Problemas na estrutura do estádio também foram relatados. Os dois principais: o apagão em parte dos refletores, que só tiveram iluminação total restabelecida no início do segundo tempo, e as arquibancadas provisórias que aumentaram a capacidade da Arena. Quem viu o jogo lá do alto teve medo.
- Sei que houve todos os testes, de bombeiros, de impacto, mas está muito ruim. Estou na fileira ZZ, no lugar mais alto do estádio, e senti muito medo de cair. Não me senti seguro – afirmou Lucas de Paula, 26 anos.
Na acomodação do público também houve outro problema grave. Com ingressos para um dos setores mais caros da arquibancada, torcedores
encontraram uma fileira sem assentos, e algumas pessoas chegaram a sentar no chão. De acordo com a Fifa, esses lugares não deveriam ser vendidos, e a organização conseguiu realocar os torcedores em outras cadeiras da mesma categoria antes do início do jogo. A fileira N do setor 423, a que não tinha assentos, é da categoria 1, com preços a R$ 990.
As horas antes do início do jogo foram as mais positivas. Com barreiras de controle instaladas a cerca de um quilômetro do estádio, a área de fãs com ingressos foi bastante festiva. A chegada teve ordem, e os voluntários souberam orientar bem os torcedores. A Polícia Militar também ficou satisfeita com a operação, apesar de ter registrado muitos casos de perda e furto – de ingressos.
A reportagem encontrou ingressos perdidos no chão, no caminho entre o metrô e o estádio. Um deles era de propriedade de um torcedor chamado Rahat Kukreja, conforme impresso na entrada. Outros também ficaram do lado de fora do estádio, com bilhetes perdidos.
- Tive alguns casos isolados de furtos, provocados por torcedores que vieram para cá sem ingresso e estavam dispostos a aprontar. Desde a saída do metrô, orientamos que todos andassem com bolsas e mochilas na frente. Não houve problemas na saída, o problema é que, dos mais de 60 mil, 50 mil saíram logo depois do jogo e causaram problemas de escoamento. Se você for à Disney, também encontra problemas dessa natureza – afirmou o coronel Tardelli, um dos responsáveis pela operação policial.
O Comitê Organizador Local e a Fifa não se pronunciaram sobre os problemas. Só vão fazê-lo em um briefing diário realizado pelas entidades, nesta sexta-feira, no Maracanã.
3.500 policiais militares trabalharam dentro e fora da Arena, reforçados por Exército e Guarda Civil Metropolitana. Nenhum incidente grave foi registrado. Na chegada à estação de metrô Corinthians Itaquera, ocorreram alguns roubos de celulares, apontados como fato isolado pelo coronel Tardelli, da PM, um dos responsáveis pela operação.
Voluntária orienta torcedores (Foto: Marcelo Prado)
Torcedores ouvidos pela reportagem elogiaram a disposição dos voluntários em ajudar dentro e fora do estádio. Todos tinham um mapa com os setores, e a maioria falava inglês.
Chegada à Arena fluiu bem (Foto: Marcos Ribolli)
Os portões foram abertos por volta das 11h, e a entrada foi tranquila. O clima foi de paz, mesmo quando brasileiros e croatas se encontraram. Por volta das 15h30, a maioria já estava dentro do estádio, o que evitou incidentes.
Metrô e o trem foram as opções mais usadas. O Expresso Copa, que seguia diretamente da região central até o estádio, começou a funcionar às 12h e foi muito elogiado. Na saída, as viagens tinham intervalo de quatro minutos.
Cadeirante acompanhou a partida (Foto: Marcelo Prado)
A reportagem ouviu quatro cadeirantes e todos elogiaram a assistência prestada por policiais, voluntários e torcedores. Na saída, como a calçada estava lotada na direção da estação de trem e metrô, eles puderam andar pela rua, sempre protegidos.
Banheiros tinham longas filas (Foto: Marcelo Prado)
Em diversos deles, não havia papel higiênico, pias estavam entupidas, e torneiras, quebradas. Na banheiro da arquibancada provisória leste, não havia água. Muitos torcedores reclamaram do cheiro forte e desagradável. No intervalo, longas filas se formaram no setor leste e houve discussão por causa dos furões.
Bares localizados em vários pontos do estádio não estavam preparados para atender tanta gente. No intervalo, vários já estavam sem comida. Um jornalista brasileiro chegou a comprar um hambúrguer congelado. Antes do jogo, as garrafas de água acabaram, e muitos reclamaram de cerveja quente. Outra queixa era de que a máquina de cartão de crédito não funcionava.
ARQUIBANCADAS PROVISÓRIAS
Nas filas mais altas, a vibração foi considerada acima do normal, e segurança não foi exatamente o sentimento de quem esteve por lá. O acabamento mais simples dos banheiros foi outro alvo de reclamação. Muitos ficaram sujos já no intervalo.
Arquibancada sem cadeiras (Foto: Marcia Menezes)
Um dos setores mais caros das arquibancadas (com ingressos a R$ 990) estava sem cadeiras, e alguns torcedores chegaram a sentar no chão. Segundo a Fifa, esses lugares não deveriam ser vendidos, no entanto, foi possível realocar as pessoas em outras posições do mesmo setor.
Principal alvo de reclamações. Um refrigerante custava R$ 8. Um saco de pipoca, R$ 10. Sanduíches, entre R$ 10 e R$ 13. Na loja oficial da Fifa, um chaveiro com o mascote da Copa era comercializado a R$ 20. Um bicho de pelúcia, a R$ 80.
Preços nos bares desagradaram aos torcedores na Arena Corinthians (Foto: Marcelo Prado)
Como o trânsito nas ruas não foi interrompido, a multidão que saiu após o jogo ficou presa na calçada que dá acesso ao metrô e ao trem. Crianças choraram, e muitos pais reclamavam da presença de ambulantes, dificultando ainda mais o deslocamento de cerca de um quilômetro.