quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

CORINTHIANS

Renato Augusto se põe entre craques do Brasileirão: "Ano da minha vida"

Meia do Timão tem temporada perfeita e diz que ele e Jadson foram os melhores do Brasileirão. Gol nas Eliminatórias e casamento no fim do ano completam cenário

Por São Paulo

Renato Soares de Oliveira Augusto atingiu a maturidade no futebol aos 27 anos. Focado, completo e livre dos problemas físicos que lhe atrasaram a vida no passado, o meia do Corinthians e candidato a melhor jogador do Campeonato Brasileiro se tornou o grande líder técnico do elenco comandado por Tite. Depois do 2015 espetacular que teve, Renato possui esse direito.
– Com certeza, foi o ano da minha vida e da minha carreira – decretou.
Renato Augusto Corinthians (Foto: Marcos Ribolli)Renato Augusto e a bola, fiel companheira em um 2015 perfeito no Corinthians (Foto: Marcos Ribolli)
Se não é o capitão mais antigo do time, posto que pertence a Ralf, Renato se faz respeitar pelo que realiza dentro das quatro linhas – corre, ocupa espaços, avança ao ataque, deixa seus gols: foram cinco no Brasileiro. Apesar de não ter sido brilhante nos números, Renato Augusto é, sim, um dos grandes nomes do campeonato. Ele próprio sabe disso, mas divide o mérito.
– Acho que eu estaria entre os dois primeiros, sim. Eu e o Jadson – disse.
O ano de Renato, porém, não se resume ao Brasileirão. Em meia hora de conversa com a reportagem do GloboEsporte.com, o corintiano não escondeu o cansaço de quem teve uma jornada intensa, com a volta da confiança, a convocação para a seleção brasileira, o gol e o choro contra o Peru, em Salvador.
A proximidade das férias é o que deixa Renato Augusto mais tranquilo. Para fechar a temporada, nada mais simbólico do que o casamento. No dia 11 de dezembro, Renato será oficialmente marido de Fernanda, com quem mora há três anos.
Confira abaixo a íntegra da entrevista:
Você esperava que 2015 fosse o melhor ano da sua vida? Se é que foi...
Olha, eu imaginava que seria bom por ter terminado 2014 muito bem, jogando. Eu ia começar o ano zerado. Sabia que seria bom, mas não sabia que seria tão especial quanto foi. Com certeza, foi o ano da minha vida e da minha carreira.
O que mudou na sua cabeça para conseguir ter um ano tão bom?
Foi a confiança. Confiança é tudo, então comecei a ganhar isso nos jogos, nos treinos, comecei a me sentir mais à vontade. Também achamos um padrão tático, você sabe onde cada jogador está e isso facilita. São vários fatores que ajudaram para isso.
Mosaico Renato Augusto Corinthians (Foto: Editoria de arte)
Qual a principal dificuldade que você teve em temporadas passadas?
Meu corpo. A principal dificuldade era meu corpo. Muitas vezes me perguntavam se eu estava disputando vaga com alguém, não estava nada. Estava brigando era comigo mesmo, com meu corpo. Sabia que quando eu estivesse bem, poderia ajudar. E consegui passar por cima disso.
E como fica a cabeça nesse momento mais difícil?
Tem dias em que você quer desistir, não quer fazer trabalho nenhum. E aí você precisa dos amigos, da família, e você vê quem está com você de verdade.
Em algum momento você pensou mesmo em desistir?
Não em desistir, mas achei que eu não jogaria mais em alto nível e que teria de sair para dar um retorno financeiro ao clube. Iria para um mercado abaixo, China, Oriente Médio, enfim... Estava pensando em sair para dar uma resposta financeira. Mas hoje vi que posso dar uma resposta no campo, que para mim vale muito mais. Aos poucos estou podendo retribuir o que o Corinthians fez por mim.
Em que ponto isso aconteceu?
No meio do ano passado eu estava pensando nisso. Eu vinha, fazia quatro bons jogos e machucava. Aí voltava, fazia mais quatro ou cinco jogos, machucava. Não é possível! Eu já estava evitando piques, querendo mais bola no pé, ia tentando dominar o jogo de outra forma. Hoje não, peço bola em profundidade, brigo, dou carrinho, estou mais solto também. Hoje conheço muito bem meu corpo e sei até onde posso ir.
Você é um dos caras que mais correm durante o jogo, sem limitações. Como foi seu dia a dia em 2015?
Fiz trabalhos diferentes dos outros, às vezes trabalho até mais do que o pessoal do campo. Procuro fazer tudo para estar bem, conversar com a parte médica e física, com o Bruno (Mazziotti, fisioterapeuta), Fábio Mahseredjian (preparador físico). Aí posso estar em alto nível.
O jogo contra o Vasco é uma prova de seu alto nível físico?
Tivemos de conversar bastante porque eu, por característica, fico mais cansado no segundo dia pós-jogo, depois de 48 horas. Se eu entrasse no segundo tempo, bateria nas 48 horas, o Bruno Mazziotti falou que seria melhor eu começar jogando. Só perguntei se teria algum risco. Ele falou que eu estaria muito cansado, mas aguentaria. O Mahseredjian achava até melhor eu ficar fora, mas a vontade de jogar e ganhar um título era maior. Às vezes, o coração fala mais alto do que a cabeça.
NOTA DA REDAÇÃO: Renato foi titular no jogo da Seleção contra o Peru, numa terça-feira, às 22h, quando jogou 90 minutos, em Salvador. Na quinta-feira, também às 22h, ele entrou em campo para enfrentar o Vasco, no Rio de Janeiro, no jogo que valeria o título brasileiro.
Renato no Brasileiro-2015:

30 jogos, 5 gols marcados
6 assistências
2,2 finalizações por partida
25 faltas cometidas
39 faltas recebidas
4,4 passes errados por jogo
2 cartões amarelos
Você ainda acreditava que teria chances na seleção brasileira?
Eu já tinha até desistido, achava que Seleção para mim não daria mais. Ultimamente, quando vi que estava próximo, eu estava com a cabeça tranquila porque sabia que teria uma oportunidade. E eu queria estar preparado para a oportunidade. Eu tive um treinador que falava que não existe sorte no futebol, existe preparo e oportunidade. Não tem sorte, você se prepara para aquele momento e tem a oportunidade. Eu pude fazer isso, e deu tudo certo.
Entrou no time do Dunga para não sair mais?
Minha intenção no início era me manter no grupo. Depois, se tivesse uma chance, estar bem. Hoje, minha cabeça é me manter no grupo e se possível como titular. Mas é uma seleção brasileira, tem muito jogador de qualidade, é normal se sair um, entrar outro, ter uma rotação. Mas vou estar preparado para todos os jogos.
O choro do gol da Seleção é também por lembrar tudo o que você passou até chegar lá?
É um conjunto de tudo o que falamos até aqui. Eu já tinha até desistido, e aí tive a oportunidade de fazer um gol no Brasil. Às vezes, a gente não consegue enxergar onde está, e ali eu pude ver onde estava, numa Seleção, fazendo gol numa Eliminatória. Aí me dei conta.
Você acha que é possível retomar a identificação do torcedor com a Seleção?
Claro que é possível. Para mim, é uma honra muito grande estar na Seleção. Então toda vez que entrar em campo com essa camisa, vou fazer de tudo para agradar não só a mim, mas ao torcedor e ao treinador. Fazer um bom papel.
Neymar Renato Augusto Brasil x Peru (Foto: André Mourão / MoWA Press)Renato Augusto faz parceria com Neymar na Seleção: "A intenção é não sair mais" (Foto: André Mourão / MoWA Press)
A safra do futebol brasileiro é boa? Como vocês encaram essa desconfiança?
Só quem está lá vai poder mudar, não adianta justificar nem falar nada em entrevistas. O que adianta é entrar em campo e jogar bem. Se você estiver vencendo, o torcedor vai gostar e ficar feliz. Você tem uma safra com Neymar, Willian, Douglas Costa, aí eu pergunto a vocês: é boa?
É boa!
Então é boa.
Como foi a experiência de jogar com os "europeus"? Jogando no Brasil, você se sente no mesmo nível deles?Eu já tinha jogado com o Willian na seleção de base, foi bom, eu imaginava que estaria muito abaixo deles. Os caras jogando Champions League, e eu no Brasil. Mas eu estava tão bem preparado que me senti no nível deles, principalmente de entender o jogo. Fiquei feliz de poder ajudar caras que já estavam ali há muito tempo. O Campeonato Brasileiro mudou um pouco, está com a intensidade um pouco maior. Ainda acho que a Europa é um pouco acima, mas nosso time joga com uma intensidade muito alta, por isso não senti muita diferença. Claro que o cara que está na Europa está um pouco acima de quem joga no Brasil.
O Campeonato Brasileiro mudou um pouco, está com a intensidade um pouco maior. Ainda acho que a Europa é um pouco acima, mas nosso time joga com uma intensidade muito alta, por isso não senti muita diferença. Claro que o cara que está na Europa está um pouco acima de quem joga no Brasil
Renato, sobre a experiência na Seleção
Qual o papel do Tite nessa sua retomada?Foi o cara que me passou toda essa confiança, estamos sempre conversando, ele é um pai para todo mundo. Não adianta só falar da parte tática e técnica, tem também a parte humana, que é realmente incrível. Agradeço muito a ele por ter voltado à Seleção.
Há algum momento do ano em que você pôde ver essa relação de "pai"?
Acho que foi no abraço do título, porque ele viu o quanto sofri para estar ali naquele momento. Foi uma forma de agradecer por toda a confiança que ele depositou em mim.
Quem foi o melhor jogador do Campeonato Brasileiro?
É muito difícil achar o melhor. Tem jogadores mais constantes e outros que tiveram picos de alto nível. Depende muito. Se você acha que é o cara que foi bem do início ao fim, ou aquele que oscilou um pouco mais, mas teve momentos incríveis. Acho muito relativo dizer quem é o melhor.
Você foi o melhor?
Acho que eu estaria entre os dois, os dois primeiros.
Você e Jadson?
Acredito que sim, eu e Jadson.
Depois de um 2014 irregular, como vocês dois conseguiram se entender tão bem dentro de campo?No início, você tem de entender como ele gosta de receber as bolas. Por eu jogar mais recuado, minha função seria passar a bola limpa para ele. Às vezes, até procuro demais o Jadson e acabo errando, porque sei que ele pode fazer algo diferente. Ele é muito inteligente também e a coisa foi se encaixando. Tem jogo que fico mais atrás, passando a bola para ele, outro jogo me lanço mais. Isso só se conquista treinando, jogando junto, e tem dado certo.
Hoje você joga mais para o time? Sente que é um jogador mais tático?Isso está mudando também na cabeça do torcedor, que não enxergava dessa forma. Hoje você vê muitos caras entendendo a parte tática. Às vezes, você nem toca na bola, mas faz todos os movimentos e quem entra sozinho é o outro. Hoje vejo que o que estou fazendo na parte tática está sendo reconhecido pelo torcedor e também pela imprensa. É muito gratificante.
Jadson Renato Augusto Corinthians (Foto: Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians)Parceria "Renadson" deu certo em 2015: candidatos a melhor do Brasileiro (Foto: Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians)
Você deixou o Flamengo muito cedo e foi para um grande clube alemão (Bayer Leverkusen). Parecia que a tendência era ficar por lá. Como foi a decisão de voltar para o Brasil?Foram vários motivos. Eu estava me machucando muito, o Bayer trabalha muito com revenda e não com títulos, e eu queria títulos. Queria voltar a ser campeão, isso já estava me incomodando. Fui vice-campeão duas vezes na Alemanha. Como fui embora muito novo, queria também ficar mais perto da minha família, dos meus amigos. Chegou a proposta. De um clube como o Corinthians, que estava brigando pelo Mundial e era campeão da Libertadores. Naquele momento, eu vi que poderia voltar e também tentar uma vaga na Seleção. Hoje eu vi que fiz uma grande escolha.
Teve dúvidas na hora de aceitar a proposta do Corinthians? Temeu passar a impressão de que não deu certo na Europa?Não pensei dessa forma, não. Só queria voltar a estar bem. Sempre fui confiante no que poderia fazer, só não estava confiante com meu corpo. Achei que seria interessante voltar, também para a cabeça. E aí poder reencontrar meu futebol.
Você chega a esse fim de ano muito cansado? Desgastado?Foi o ano em que cheguei mais desgastado no fim. Eles fizeram um levantamento de minutos jogados, e foi disparado meu melhor ano. Cheguei num limite de cansaço mesmo, mas um cansaço que me deixou muito feliz. Com tudo o que vivi e vi que posso melhorar. Sei que posso melhorar em algumas coisas, isso me dá mais motivação para estar bem em 2016.
Corinthians x São Paulo Renato Augusto (Foto: Marcos Ribolli)Taça do Brasileiro coroa ano desgastante do meia, que jogou muito em 2015 (Foto: Marcos Ribolli)
Em que pontos dá para melhorar?Tem muita coisa, mas posso entrar um pouco mais na área, já comecei a finalizar um pouco mais e fazer mais gols. Ter calma na hora de finalizar. Tem muita coisa para melhorar e aprender, e isso vai me deixar num patamar mais acima.
Se o Corinthians conseguir manter sua base, entra de novo como favorito na Libertadores?
O Corinthians é favorito aonde vai. Vai ser sempre um dos favoritos, mas aí vai depender da saída de jogadores, de outros que vão chegar. A confiança de fazer um grande 2016 é enorme. Dezembro não costuma ser um mês de transferências, janeiro é um pouquinho melhor, mas o meio do ano é mais forte. Espero que todo mundo fique para buscarmos a Libertadores.
Você pensa em jogar novamente na Europa?
Só se for uma coisa muito boa para mim e para o clube. Financeiramente e profissionalmente. Jogar num time bom, e ser bom para o clube também. Minha ideia é ficar, a não ser que venha uma coisa realmente muito boa para todo mundo.
Agora, uma curiosidade. Como e onde você aprendeu a dar tantas canetas?
Eu acho que era melhor nisso (risos). Quando cheguei na Alemanha, tinha 20 anos e pensava mais em caneta do que na parte tática, bati até um recorde lá na minha primeira temporada. Mas na hora, quando eu vejo que não tem opção, acontece. Não tem como explicar.
Tem um pouco a ver com seu início no futsal?
Pode ser, pode ser. Um drible um pouco mais curto. Joguei quase dez anos de futsal e isso ajudou bastante.
Aliás, o futebol veio por acaso na sua vida, certo? Você era bom mesmo no futsal?
Eu ainda acho que joguei mais futsal do que jogo campo. Eu era muito bom naquilo. Só que todos os meus amigos foram para o campo. Eu jogava futsal pelo Fluminense, em 2000, e em 2001 todo mundo iria para o campo. O Fluminense me chamou para treinar no campo, fui até Xerém, mas aí o treinador fez meio que um mistão, um peladão, deixou o pau comer. Pensei: vou ficar lá no futsal.
Eu ainda acho que joguei mais futsal do que jogo campo. Eu era muito bom naquilo. Só que todos os meus amigos foram para o campo
Renato, sobre o início no futebol
E o que mudou para você chegar ao campo?
O treinador de campo do Flamengo tinha me visto em alguns jogos no salão, aí me chamou para treinar lá. No primeiro treino, ele pegou o colete e perguntou do que eu jogava. De ala. Nunca joguei campo, ele me disse: “a partir de agora você é meia”. No primeiro toque na bola, dei de bico. Os caras chegaram e pediram calma, não era assim (risos). Para mim era ajeitar e dar de bico. Mas cheguei, e o treinador queria que eu ficasse. Entre ser titular no Flamengo e fazer um mistão lá no Fluminense, fiquei no Flamengo e as coisas caminharam.
Você teria virado uma estrela do futsal?Difícil dizer. Eu era bom. Fui campeão brasileiro, do circuito nacional. Joguei contra o Willian, do Chelsea. Era uma época boa. Não sei se eu seria um Falcão, porque ele é como o Pelé, mas eu poderia estar brigando.
Você se arrepende da troca?Hoje não, estou muito feliz, mas o salão serviu como aprendizado. Hoje estou muito feliz.
Como você aprendeu a ter uma leitura tática tão boa dentro de campo?
A Alemanha foi muito importante em termos de aprendizado. Não ganhei títulos, mas me tornei um cara um pouco mais completo. Não tinha a visão que tenho hoje. Trouxe para o Brasil o que tinha de melhor lá. Não à toa, pude voltar para a Seleção. Muita gente aqui fala, às vezes o Ralf fala que não posso ficar muito tempo fora. Procuro ajudar na parte defensiva, você tem de aprender a gostar de marcar. Aprendi isso na Alemanha também. Antes, o camisa 10 só ficava ali na frente, não precisava voltar. Hoje você não vai ver mais isso. Hoje você vê um centroavante como o Love que corre feito um lateral. Se você não pensar pela equipe, vai ficar abaixo dos outros.
Para fechar o ano, vem o casamento. Como será entrar nessa vida? É para fechar de maneira perfeita?
Na verdade já sou casado, moro junto com há três anos, agora é só oficializar. Se eu soubesse que esse ano seria tão maravilhoso, eu casava em janeiro só para não quebrar (risos). Ela queria me bater. Foi uma brincadeira, mas é uma forma de coroar 2015. Uma pessoa especial para mim. Além de a parte profissional ter sido maravilhosa, a parte pessoal foi também.
Renato Augusto Corinthians (Foto: Marcos Ribolli)Renato Augusto fecha 2015 com casamento em dezembro, no Rio de Janeiro (Foto: Marcos Ribolli)

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