quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

FLUMINENSE

Gum revela dificuldades e insatisfação com críticas: "Me sinto injustiçado"

Zagueiro conta detalhes do drama vivido no início de 2015, relembra pênalti perdido contra o Palmeiras e projeta 2016 como sua melhor temporada no Fluminense

Por Rio de Janeiro

Desde 2009 no Fluminense, Gum viveu em 2015 uma de suas temporadas mais difíceis no clube. No início do ano, uma cirurgia de apendicite mal sucedida, feita nos Estados Unidos, quase mudou o rumo da vida do zagueiro, que correu sério risco e precisou refazer o procedimento no Brasil. Depois de muito custo para se recuperar, período no qual a impossibilidade de dirigir o forçou a contratar um motorista, reconquistou a posição de titular. As cobranças da torcida, no entanto, andaram lado a lado. Sem dar trégua.

Gum, bicampeão brasileiro e carioca pelo Tricolor, ouviu muitas vaias, e sua cobrança errada de pênalti na disputa com o Palmeiras, na semifinal da Copa do Brasil, acabou se tornando simbólica para os torcedores pegarem ainda mais no pé. O zagueiro ficou incomodado. Mesmo tendo atingido a marca de 300 jogos diante do Avaí, confronto no qual marcou gol - tem 22 bolas na rede no total.
Me sinto injustiçado. Muito. Às vezes, a foto do erro que sai é a minha, mas muitas vezes acontecem outros erros que as pessoas não lembram".
Gum, zagueiro do Fluminense
- Me sinto injustiçado. Muito. Às vezes, a foto do erro que sai é a minha, mas muitas vezes acontecem outros erros que as pessoas não lembram - afirmou em uma espécie de autoavaliação.

Em sua análise própria, considera que por poucas vezes teve um desempenho ruim nas competições deste ano. Agora, livre dos problemas físicos, o zagueiro espera fazer da temporada 2016, sua oitava pelo clube, a melhor nas Laranjeiras:

- Fiz bons jogos. Ruins foram poucos. Vou me preparar bem e quero fazer meu melhor ano, depois de tantas dificuldades. Foram quatro cirurgias em cinco meses. Sei que o melhor está guardado.

Apesar do ano de muitos altos e baixos, Gum despertou interesse de outros clubes. Santos e Corinthians foram apontados como possíveis candidatos. O zagueiro, no entanto, tem contrato com o Flu até dezembro de 2018 e, por enquanto, deve permanecer.
gum, zagueiro, fluminense (Foto: Pedro Veríssimo/GloboEsporte.com)Gum entende que a temporada de 2016 será a melhor dele pelo Fluminense (Foto: Pedro Veríssimo/GloboEsporte.com)

Confira a entrevista com Gum:

GloboEsporte.com: O ano de 2015 foi de reestruturação após a saída do principal patrocinador. Qual o saldo que esta temporada tem para o Fluminense?

Gum: Houve a perda do patrocínio, a saída de muitos jogadores importantes, o clube se reestruturando... O que foi criado fora, as pessoas dizendo que o Fluminense ia cair, ia acabar por conta da saída do patrocínio forte. Se lembrarem disso, acho que o clube teve um grande ano. Fez boas campanhas. Chegou a ficar em segundo no Brasileiro, mas depois perdeu a constância. Poderia ter seguido. Chegou na semifinal da Copa do Brasil e, se fosse por justiça, deveria ter passado para final. Mas não passamos por erros e porque nem sempre o melhor avança. Se olharmos desta forma, tivemos altos e baixos, mas não sofremos o que imaginavam. Pela visão do torcedor, o Fluminense teve a chance de chegar na liderança e depois caiu de rendimento. Fica o sentimento de que não conquistou algo nas duas competições.     

E individualmente, acredita que foi um ano proveitoso?

Iniciei o ano com uma cirurgia muito séria, muito debilitado fisicamente. Para mim não foi fácil voltar a jogar, tive que ter muita força e me cuidar muito. Precisei recuperar o espaço que eu tinha perdido. O 2015 foi de superação para o clube e para mim. Reconquistei minha parte física, técnica e pude ajudar o Fluminense nessa transição. Como um dos mais experientes, tive que ajudar neste momento. Teve esse lado positivo para mim. Sei que em 2016 vou poder me preparar bem, fazer uma pré-temporada e ter um grande ano. Espero jogar em um nível muito alto e corresponder.
Para voltar a jogar, contratei até um motorista. Eu estava tão debilitado que precisava usar todas as minhas forças para me condicionar. Não me cansaria no trânsito nem para ir nem para voltar, só para se ter uma ideia".
Gum, zagueiro do Fluminense
Em uma entrevista no início do ano, você disse que ainda chegaria o momento de falar com detalhes sobre o risco de passou na cirurgia. Essa hora chegou?

É uma coisa que ainda me incomoda um pouquinho, porque é muito particular. Só as pessoas mais próximas que sabem realmente o que aconteceu. Foi muito difícil. Quem sabe diz que fui guerreiro mesmo. Para voltar a jogar, contratei até um motorista, que hoje em dia se tornou um amigo. Eu estava tão debilitado que precisava usar todas as minhas forças para me condicionar. Não me cansaria no trânsito nem para ir nem para voltar, só para se ter uma ideia. Vou abrir só esse detalhe (risos). Foi uma coisa que julguei necessária, e se eu não tivesse feito ia ter demorado mais para voltar. Eu voltava para casa dormindo de tão cansado que eu ficava. Mais para frente vou poder contar com mais tranquilidade.

Qual foi o momento em que você começou a sentir que estava ficando pronto para voltar e jogar normalmente?

Difícil dizer. São muitos jogos, e quando o intervalo entre um e outro era menor, me sentia mais cansado. Nas primeiras partidas que fiz, se eu pudesse escolher, teria esperado um pouco mais. Mas a vontade e a necessidade eram grandes naquela época. A defesa estava passando por uma fase difícil, e os torcedores me pediam para voltar. Voltei. Voltei bem, mas a parte física ainda não era a ideal, aí tinha uma queda física. Eu sabia que estava um pouco abaixo. Agora posso dizer que estou terminando o ano muito bem, zerado na parte física. Por isso que digo que sei que vou ter um grande 2016. Sei da minha qualidade, do meu potencial, de tudo que aconteceu durante o ano... Fiz bons jogos. Ruins foram poucos. Jogar bem e jogar mal acontece, sou ser humano como qualquer um. Acho que fiz um bom ano. Tem pessoas que acham que não, mas eu sei da minha luta. Vou me preparar bem e quero fazer meu melhor ano, depois de tantas dificuldades. Foram quatro cirurgias em cinco meses. Sei que o melhor está guardado.
gum árbitro cobrança pênalti fluminense x palmeiras (Foto: Marcos Ribolli / GloboEsporte.com)Depois de receber a bola de Anderson Daronco, Gum desperdiçou pênalti contra o Palmeiras (Foto: Marcos Ribolli / GloboEsporte.com)
Acredita que as suas falhas ganham mais destaque? A memória no futebol é curta?

No pênalti (contra o Palmeiras), fiquei chateado porque peguei um pouquinho mais embaixo da bola do que eu queria. Ninguém lembrou dos outros três pênaltis que eu fiz. Esse foi o quarto que bati. Fiz contra o Flamengo, Vasco e Botafogo. Contra o Palmeiras, perdi. Pressão sempre vai existir. As pessoas dão mais ênfase ao negativo do que ao positivo. Infelizmente essa é a cultura do Brasil.

Se sente injustiçado?

Sim. Me sinto injustiçado. Muito. Não só no pênalti, mas em outras coisas. Às vezes a foto do erro que sai é a minha, mas muitas vezes acontecem outros erros que as pessoas não lembram, mas na foto sou eu quem saio. E sempre vou sair, porque nunca vou me esconder. Se algum companheiro errar, vou sempre tentar corrigir. Erros meus vão acontecer também, claro. Mas a nossa foto lá atrás é sempre a que aparece e as pessoas não lembram como a jogada foi construída. Mas tem que ter as costas largas, personalidade e essa disposição de ajudar. Isso me traz paz, tranquilidade e força para continuar trabalhando, ajudando. Tenho o reconhecimento dos companheiros e das pessoas que trabalham comigo, porque eles sabem que podem contar comigo dentro de campo.

O que ocasionou a queda de rendimento do time no segundo turno do Brasileiro?

São vários fatores. Os times de futebol são divididos em setores, a parte defensiva, a de meio de campo e a ofensiva. Chegou um momento que todos estávamos muito bem e quase fomos líderes do campeonato, mas aí um setor desencaixou um pouco. Depois, o outro desencaixou também. Chegou um momento em que ficamos 11 jogos sem vencer e ninguém mais estava jogando bem. O time inteiro caiu de produção. Então, não tem só uma resposta. São várias coisas. Todos ficam chateados. Isso vemos em todos os clubes. Acontece alguma coisa, que causa outras e equipe não consegue voltar ao bom nível. Oscilamos, mas mesmo assim chegamos na semifinal da Copa do Brasil.
 Quase sete anos, 300 jogos... isso é uma grande história. Uma hora vou sair, vou parar. Quando isso isso acontecer, vou me emocionar. Vai passar um filme na cabeça. Os momentos vão ficar guardados com carinho".
Gum, zagueiro do Fluminense
Você recentemente completou 300 jogos pelo Fluminense (contra o Avaí). O que representa esta marca?

Para mim é um prazer enorme vestir a camisa do Fluminense desde que cheguei, em 2009, quando a realidade era muito difícil. Todos davam como certo o rebaixamento, mas eu vi uma oportunidade. Familiares, amigos... ninguém queria que eu viesse. Vim. Não foi fácil, porque o ambiente era complicado. Trabalhamos muito com o Cuca, que fez algumas mudanças e conseguimos salvar. Foi marcante. Mantivemos uma base e fomos campeões com o Muricy no ano seguinte. Resgatou a alegria e autoestima da torcida. Em 2011, ficamos em terceiro, e em 2012 fomos campeões novamente. Isso foi muito prazeroso, ficar marcado no clube. Quase sete anos, 300 jogos... isso é uma grande história. Uma hora vou sair, vou parar. Quando isso isso acontecer, vou me emocionar. Vai passar um filme na cabeça. Os momentos vão ficar guardados com carinho.
gum, fluminense, gol, avaí (Foto: Bruno Haddad/Fluminense FC)Na vitória sobre o Avaí, pelo Brasileirão, Gum completou 300 jogos pelo Fluminense (Foto: Bruno Haddad/Fluminense FC)



Você vai para a oitava temporada com a camisa do Fluminense. O que esperar de 2016?

Vou me preparar para ser o meu melhor ano. Já tive temporadas com conquistas, completei 300 jogos, uma marca muito especial... estava comentando com Fred, Jean e Cavalieri que nós que estamos há muitos anos no clube somos os mais cobrados. Se a defesa erra, eu sou o culpado. Sempre sou mais cobrado. Se o ataque não faz gol, a culpa é do Fred. Se o meio de campo não funciona, a culpa é do Jean. Criamos uma história com títulos. Em 2016, permanecendo estes jogadores, sabemos que temos que conquistar títulos. A pressão é muito grande. Para ter tranquilidade, só com títulos. A torcida cobra porque sabem que podemos dar o retorno.

E você já vai iniciar 2016 com uma boa notícia, a chegada do segundo filho...

Momento especial, porque eu e minha esposa queríamos muito. Há algum tempo já estávamos pensando nisso. Chega em uma hora especial, depois de tanta dificuldade. Por isso que vou me capacitar muito para o ano que vem, tanto fisicamente como mentalmente. Sei que vou ser muito cobrado e que vou dar retorno. Com uma base e um time amadurecido, podemos ter um ano muito bom. Esse ano passamos perto.

O que te fez recusar as propostas que recebeu nestes anos que está no Fluminense?

O carinho pelo clube, pela torcida, pelo ambiente... Sou feliz aqui. Muito feliz. Hoje torço pelo clube, minha família também. Todos têm camisa do Fluminense. Isso que me fez querer permanecer, construir uma história no clube cada vez mais rica. Sou muito grato, porque são sete anos de história. O Fluminense me proporcionou muitas coisas. Fiquei porque queria participar dos projetos, do crescimento do clube. Fico muito feliz de atingir a marca de 300 jogos porque entrei para o grupo dos 30 jogadores que mais vestiram a camisa do Fluminense. Em um clube centenário, com a quantidade de atletas que já passaram por aqui, imagina o que é estar entre os 30. O carinho só tende a aumentar.

Em 2011 foram 11 propostas recebidas?

Sim. Muitas vezes temos que esquecer tudo isso e trabalhar, deixar isso somente com o empresário. Em 2011 foram muitas. O clube que o Conca foi, na China, fez proposta antes mesmo dele. Teve França, Japão, Espanha... muitos países. Mas fiquei feliz de permanecer e de ter alcançado essa história com o Fluminense. Se tivesse ido, não teria essas conquistas. Eu e minha família estamos muito felizes aqui.

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