terça-feira, 8 de dezembro de 2015

UFC

A mente de Aldo: brasileiro responde provocações com "sangue nos olhos"

Campeão linear dos pesos-penas recusa ajuda profissional para lidar com falatório 
de Conor McGregor, contra quem faz a luta principal do UFC 194, no próximo dia 12

Por Rio de Janeiro
Quem está perto de José Aldo no dia a dia não tem dúvidas: ele não está nem aí para Conor McGregor. Apesar de toda pressão imposta, intensificada a cada provocação do irlandês, a postura da Nova União revela tranquilidade e confiança na estabilidade psicológica do campeão peso-pena do UFC. E se engana quem pensa que o foco do manauara é fruto de trabalho com profissionais da mente: ele prefere não receber ajuda de psicólogos.
Quem confirma é Felipe Vardiero, que trabalha com os atletas da Nova União, no Rio de Janeiro. Segundo o psicólogo, Aldo nunca atendeu às sessões de tratamento disponibilizadas pela equipe.
- Isso sempre é uma demanda do atleta, a gente não vai em momento algum até eles. Quando eles precisam, vêm até nós. O Aldo é um cara multi-campeão, experiente para cacete, nunca precisou. A impressão que dá é que o McGregor não vai conseguir desestabilizá-lo - diz, em entrevista ao Combate.com.
José Aldo Coletiva Go Big UFC (Foto: Evelyn Rodrigues)De personalidade oposta a de Mcgregor, Aldo costuma manter postura séria em eventos (Foto: Evelyn Rodrigues)

Aldo é tão confiante que um tratamento poderia até comprometer sua performance no octógono. Ele prefere ir para a luta com "sangue nos olhos", entrar no octógono com raiva de quem está do outro lado. A tese é defendida por Dedé Pederneiras, treinador do peso-pena e líder da equipe.
De acordo com o técnico, essa característica sempre esteve presente com o manauara: desde a época dos eventos brasileiros, passando pelo extinto WEC e, por fim, no Ultimate, onde está desde 2011. A diferença de José Aldo para os outros, na opinião do treinador, é que ele nunca teve dúvidas pairando sobre sua mente.
- Ele sempre teve uma cabeça muito boa. É um cara muito confiante no que faz, na habilidade que tem. Ele fala "nunca fiz essa p... não e, se eu fizer, está arriscado piorar. Prefiro estar com o sangue nos olhos que eu sempre tive. Não quero me acalmar, não. Sempre fui assim e pronto".
PROVOCAÇÕES FAZEM A DIFERENÇA NA "HORA H"?

Um dos maiores duelos psicológicos da história do UFC foi o de Chael Sonnen contra Anderson Silva. Antes das duas lutas entre os dois, o americano usou todo o seu arsenal de provocações contra o brasileiro. Não deu muito certo.
Quem integrava a equipe de Anderson na época era Jorge Luís Marujo, especialista em psicologia esportiva. Em sua opinião, a estratégia utilizada por Sonnen e, agora, por Conor McGregor contra José Aldo remete aos estratagemas de Sun Tzu, general chinês autor de "A Arte da Guerra". E, sim, pode influenciar no resultado do combate.
ufc Anderson Silva com o Chael Sonnen (Foto: Divulgação / UFC)Anderson usou o deboche como arma para enfrentar o falastrão Chael Sonnen antes dos dois confrontos (Foto: Divulgação / UFC)
Segundo Marujo, quem recebe as provocações precisa estar bem preparado psicologicamente para manter o foco nesse tipo de situação. O especialista alerta que esse cuidado não é levado tão a sério no país e que, somado ao estresse natural dos lutadores durante preparação para luta, as provocações podem ter efeito decisivo na hora H.
- Quando chega perto do confronto, o atleta já está no fio da navalha. Todo estresse acumulado nos treinamentos, no dia a dia familiar e até mesmo na perda de peso pré-luta faz com que palavras de instigação como as de McGregor possam atrapalhar o adversário - explica.
Por ser experiente, campeão há muito tempo e acostumado a momentos de decisão, José Aldo pode ser considerado, nas palavras do psicólogo, um atleta resiliente. Em outras palavras, o manauara tem capacidade de absorver impacto emocional e, até mesmo, transformar hostilidades em estímulo motivacional.
No entanto, Marujo também observa que o fato de Aldo estar no topo há tantos anos pode ter efeito reverso. Contra McGregor, o brasileiro faz sua oitava defesa de cinturão no UFC. Isso o coloca numa posição em que tem muito a perder caso derrotado, gerando ainda mais estresse, num processo que o psicólogo chama de "burn-out".
Felipe Vardiero, psicólogo da Nova União, também considera muito importante o tratamento. Ele lamenta que não tenha estrutura grande o suficiente para que todos os atletas sejam atendidos.
- Acho que seria bom se todo mundo conseguisse fazer. A psicologia no esporte hoje é importantíssima. Tão importante quanto a parte física ou técnica. Cansamos de ver lutas perdidas pela cabeça. Mas a gente nem tem essa estrutura toda para atender a todo mundo, na verdade. São muitos atletas, então acabamos fazendo uma seleção, vendo quem podemos ajudar mais, e o trabalho começa assim.
TRÊS MOMENTOS DECISIVOS DE UMA RELAÇÃO CONTURBADA

Entre todos os momentos ríspidos na relação nada amigável de Conor McGregor e José Aldo, alguns se destacam. Confira três deles, em ordem cronológica:
Gritos na cara após vitória sobre Siver:

McGregor já provocava Aldo há um tempo quando, em janeiro deste ano, derrotou Dennis Siver e conseguiu o "title shot". Mas aquela noite ficaria marcada como o início de uma rixa maior do que o público imaginava. Em janeiro deste ano, após nocautear o russo-alemão no segundo round, o irlandês pulou a grade do cage e foi até o brasileiro, que assistia da primeira fila. Com um sorriso de maníaco, gritou na cara de José Aldo, que parecia não entender muito bem as palavras proferidas e respondia com um sorriso.
UFC Fight Night: McGregor x Siver (Foto: Jeff Bottari/Zuffa LLC UFC)McGregor venceu Siver de forma contundente com um nocaute no segundo round (Foto: Jeff Bottari/Zuffa LLC UFC)











Roubo de cinturão no tour promocional
Em março, as intenções de McGregor ficaram claras no backstage de uma das conferências de imprensa do tour promocional para o UFC 189. Quando o irlandês pediu "emprestado" o cinturão do brasileiro para uma funcionária do Ultimate e, em seguida, foi até a porta do camarim do campeão para provocá-lo, José Aldo vislumbrou o que estaria por vir. Mas não o suficiente para evitar os planos do rival. Em um momento de desatenção, Conor McGregor surpreendeu ao público de Las Vegas, na última coletiva do evento, e roubou o cinturão de Aldo. Foi a gota d'água daqueles dias recheados de tensão. Aldo partiu para cima e teve que ser segurado por Dana White. Do outro lado, McGregor ria, com a certeza de que tinha "entrado na cabeça" do adversário.
José Aldo e Cono Mcgregor, Coletiva UFC189 (Foto: Getty Images)Em momento de desatenção, o irlandês se aproveitou e surrupiou o cinturão do campeão dos penas (Foto: Getty Images)

















Encarada e ofensas no "Go Big"
O fim de ano agitado do UFC, com numerosas disputas de cinturão e lutas importantes, começou a ser promovido em setembro, no evento "Go Big". Estavam lá as estrelas que fariam parte da série de eventos grandes marcados para os últimos meses de 2015. Ronda Rousey, Holly Holm, Rafael Dos Anjos, Daniel Cormier e, claro, José Aldo e Conor McGregor. Seria inocência achar que o irlandês desperdiçaria a chance de ofender o brasileiro. Entre outras coisas, o falastrão disse que Aldo estava "tremendo na base" e que ele parecia "ter sofrido um derrame" depois de enfrentar Chad Mendes em novembro passado. A falação culminou em uma das encaradas mais tensas da noite, com ambos simulando uma briga de touros ao pressionarem suas testas contra a do outro. Aldo foi embora logo em seguida, ao som de mais alfinetadas do campeão interino. "Olha lá, ele correndo de novo. As pessoas dizem que eu falo muito, mas eu me garanto", gritava.
Encarada José Aldo e Conor McGregor UFC Go Big (Foto: Evelyn Rodrigues)No "Go Big", a encarada tensa lembrou uma briga entre touros, que foi apartada por Dana White (Foto: Evelyn Rodrigues)









COMO ALDO LIDOU COM O IRLANDÊS ATÉ AGORA?

No início do ano, quando Aldo x McGregor ainda estava marcado para o UFC 189, o Ultimate fez uma tour promocional. E o momento foi decisivo para o brasileiro testar seu auto-controle. Em 12 dias de coletivas de imprensa, que começaram no Rio de Janeiro e terminaram em Dublin, passando por oito cidades do mundo, o irlandês pegou pesado. E conseguiu tirar o campeão do sério quando, em momento de desatenção de Aldo, aproveitou e surrupiou o cinturão do brasileiro, que tentou partir para cima, mas foi segurado por Dana White.
- Ele leva tudo na esportiva. Falou que encheu o saco uma hora, mas na outra já estava tranquilo. Teve altos e baixos como em qualquer outra situação. Eu fiz até um comentário, dizendo que, se o McGregor entrou na cabeça dele, saiu rapidinho quando viu o que o Aldo estava pensando em fazer na luta. Não tem essa. Ele tá aqui treinando e vai entrar 100% como sempre entrou - afirmou Dedé Pederneiras alguns dias depois.
José Aldo, Coeltiva UFC 189 (Foto: André Durão)Lutador brasileiro é o primeiro e único campeão 
peso-pena da história do Ultimate (Foto: André Durão)
A peso-palha do UFC Cláudia Gadelha, amiga e companheira de treinos de Aldo, relata uma volta aos treinos um pouco diferente por parte do campeão. A lutadora percebeu uma postura mais nervosa que a de costume após as provocações do irlandês.
- Ele chegou na academia bem p.... As provocações do McGregor passaram um pouco dos limites. Achei um desrespeito. Mas o Aldo sempre foi muito focado, então acredito que isso não vai influenciar em nada. Ele é muito superior ao McGregor. Acho que ele vai fazer uma luta bem estratégica e manter o cinturão - disse.
Nos eventos promocionais mais recentes, Aldo se apresentou um pouco mais à vontade nos embates com o irlandês. Em alguns momentos devolvias as provocações. Seu inglês, ainda que não articulado, foi suficiente para largar um "take a shower", se referindo à fama de mau-cheiroso comumente atribuída a Conor, após a encarada no "Go Big". Instantes depois, o brasileiro pôs as mãos espalmadas junto à bochecha e colocou a língua para fora, chamando McGregor de palhaço e arrancando risadas do público.
A resposta para saber se Conor McGregor entrou ou não na cabeça de José Aldo será revelada no próximo dia 12, quando os dois colocam um ponto final no falatório, na luta principal do UFC 194, valendo a unificação do cinturão dos penas. 
UFC 194
12 de dezembro, em Las Vegas (EUA)
CARD PRINCIPAL - a partir de 1h (horário de Brasília)
Peso-pena: José Aldo x Conor McGregor
Peso-médio: Chris Weidman x Luke Rockhold
Peso-médio: Ronaldo Jacaré x Yoel Romero
Peso-meio-médio: Demian Maia x Gunnar Nelson
Peso-pena: Max Holloway x Jeremy Stephens
CARD PRELIMINAR - a partir de 22h (horário de Brasília)
Peso-galo: Urijah Faber x Frankie Saenz
Peso-palha: Tecia Torres x Jocelyn Jones-Lybarger
Peso-meio-médio: Warlley Alves x Colby Covington
Peso-leve: Léo Santos x Kevin Lee
Peso-leve: Joe Proctor x Magomed Mustafaev
Peso-leve: John Makdessi x Yancy Medeiros
Peso-meio-médio: Court McGee x Márcio Lyoto

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