quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

CORINTHIANS

Crise, reformulação e hexa: o primeiro ano do presidente do Corinthians

Com estilo diferente ao de Andrés e Gobbi, Roberto de Andrade abre mão de ídolo, corta gastos, atrasa direitos de imagem, mas celebra título incontestável no Brasileiro

Por São Paulo





Sucessor da "celebridade" Andrés Sanchez e do "explosivo" Mário Gobbi, Roberto de Andrade tem orgulho em dizer que é discreto. Em comparação aos seus antecessores, ele tem razão. Mesmo assim, não escapou das manchetes em seu primeiro ano de mandato no Corinthians. Seja pelo título brasileiro, pelo atraso de direitos de imagem ou por abrir mão da permanência de Paolo Guerrero, ídolo na conquista do Mundial de Clubes de 2012.
– Não se trata nem de gostar ou não gostar de assédio. É óbvio que a gente gosta, mas até pela minha discrição, de não aparecer muito, consigo ir a muitos lugares e passar despercebido. Mas na maioria dos lugares as pessoas me reconhecem – disse o mandatário alvinegro, responsável por iniciar em 2015 uma política de corte de gastos no clube.
Em entrevista de 40 minutos no CT do Corinthians, Roberto de Andrade, fã de Rivellino, falou dos desafios na presidência, projetou um 2016 um pouco melhor que 2015 (mas ainda difícil) em termos financeiros e disse que pretende concluir as obras do CT da base, em campo anexo ao do profissional, até o fim do seu mandato. 
Confira abaixo a íntegra da entrevista:
GloboEsporte.com: Após um ano de algumas dificuldades financeiras, o que significa conquistar o título do Campeonato Brasileiro?
Roberto: Algumas dificuldades? Algumas é pouco. Tivemos muitas e continuamos tendo, mas acho que o título vem coroar todo um trabalho que fizemos em conjunto com diretoria, elenco e comissão técnica. É gratificante concluir o ano e soltar o grito de campeão. Todos desconfiavam, achando que o Corinthians ia brigar para não cair, que fazia um grande desmanche. Sempre neguei, nosso grupo é muito forte, e provamos que minhas falas tinham um pouco de razão.
Roberto de Andrade, Corinthians (Foto: Chris Mussi)Roberto de Andrade ao lado do troféu do Corinthians, o campeão brasileiro de 2015 (Foto: Chris Mussi)

O que foi mais desgastante neste primeiro ano à frente do Corinthians?
O futebol é desgastante, a presidência de um clube é desgastante, tendo o titulo ou não, pode ser mais ou menos, mas sempre é.

Mas o que é mais difícil no cargo?
Presidir. Tudo. Não é só futebol, tem o clube todo, milhares de sócios no dia a dia, tem de mantê-lo organizado, com outras competições esportivas. Tudo fica embaixo do guarda-chuva do presidente e da diretoria. Por isso é um pouco desgastante, mas ao mesmo tempo é gratificante.
Os problemas financeiros foram os que mais te preocuparam neste ano?
É a parte mais difícil porque são valores expressivos, tinha um acúmulo de débitos a saldar com os atletas, o que não é pouco. Viemos trabalhando, conversando com todo mundo, devagarinho, uma coisa de cada vez até chegar em uma situação que conseguimos zerar toda a conta.
É difícil falar para um jogador que você não tem dinheiro para pagá-lo?
Pode ser uma conversa dura, mas tem de ser dita, não adianta esconder o sol com a peneira. Tem de ter franqueza: estou trabalhando, fazendo isso, aquilo, nunca neguei informações internas. Estou tentando uma solução que talvez em 30 dias saia, tem outra para depois e foi sempre assim. Pelo andamento das negociações, eu passava para eles até quitar com todos.
Pode ser uma conversa dura, mas tem de ser dita, não adianta esconder o sol com a peneira. Tem de ter franqueza: estou trabalhando, fazendo isso, aquilo, nunca neguei informações internas 
Roberto de Andrade, sobre os problemas financeiros do Corinthians em 2015
Quando o time foi eliminado da Libertadores, o tema "direitos de imagem atrasados" ganhou grande repercussão, como se fosse uma causa para a queda. Isso te irritou?Eu me irrito com isso porque acho falta de respeito. As pessoas devem escrever, é o trabalho de vocês, mas só o que tem certeza. "Ouvi falar" ou "ouvi dizer" não deve chegar ao torcedor. Quando falo vocês, é imprensa de modo geral. Ela coloca a gente em uma situação muito delicada, esquecendo que a gente anda na rua, tem família, filho. Colocando a culpa como se o fato de os jogadores não receberem salário, é porque o dinheiro está comigo e eu não quero dar. Isso não é verdade. Precisa ter responsabilidade. Vale a minha verdade, não vale a de vocês. Isso nos deixou tranquilos para fazer o Campeonato Brasileiro que fizemos.
Financeiramente, o ano de 2016 será melhor do que este que termina?
Dá para respirar mais, mas não tão mais. Melhor que 2015 será, mas também difícil.
Seu primeiro ano de gestão foi marcado por redução de gastos. Foi um acerto?
A redução é mais cultural do que financeira. Você pode reduzir em um primeiro momento um percentual pequeno, mas mudando na cabeça das pessoas a maneira de agir e de pensar. Isso que prefiro. Que ao longo do tempo, o que vai se mostrar no Corinthians vai ser muito melhor que o imediatismo de agora. Isso que estamos fazendo, o que entendo como certo, com coerência.
Não renovar com o Paolo Guerrero foi um recado para dizer que as coisas mudaram?
Faria de novo, independentemente da posição que o clube acabou, campeão ou não, não estaria arrependido nem um pouco. Não fiz para dar recado, nem interno nem externo. Fiz porque achei justo com o clube. O clube não tinha condições de fazer a renovação. Fiz o que achei mais justo.
São muitas conquistas recentes. Acha que o Corinthians pode vir a ser um modelo?
O Corinthians não é modelo para nada, são outros clubes. O Corinthians gosta de trabalhar. Onde mais me sinto bem é atrás de uma mesa. Gosto de fazer as coisas, que os resultados apareçam. Não quero ser modelo, quero ser para o Corinthians, para o corintiano, para o nosso grupo, para os funcionários. Isso sim.
Andrés Sanchez, Roberto de Andrade e Mário Gobbi Corinthians (Foto: Paulo Lopes / Agência Estado)Andrés Sanchez, Roberto de Andrade e Mário Gobbi : últimos presidentes do Corinthians ( Paulo Lopes / Agência Estado)
Você tem um estilo muito mais discreto que Andrés Sanchez e Mário Gobbi, concorda?
Faz parte da minha pessoa, sou assim. Gosto que as coisas funcionem e não preciso ser o pai de nada disso. Só gosto que as coisas fiquem boas e permaneçam da melhor forma possível. O meu maior desejo nestes três anos de mandato é que as coisas funcionem e melhorem.
Gosto que as coisas funcionem e não preciso ser o pai de nada disso. Só gosto que as coisas fiquem boas e permaneçam da melhor forma possível
R. de Andrade
Gobbi teve atritos com Andrés em seu mandato. Você parece tê-lo como um braço direito...
Só soma. Você junta a experiência dele, de anos de glória no Corinthians conquistando muita coisa. A vivência no futebol e em outras áreas do clube. Para mim, é de fundamental importância tê-lo por perto quando preciso de alguma coisa, ele está sempre presente para me ajudar. 
Nota da Redação: Presidente entre 2007 e 2011, Andrés hoje é superintendente de futebol
O ano de 2015 ficou marcado pela maior utilização de pratas da casa. Como viu isso?
É um departamento difícil, não existe uma receita que você copia de alguém. A gente vem melhorando muito com o Alessandro (coordenador de futebol) nos últimos dois anos. O clube nunca teve tantos meninos no profissional como agora, com qualidade, sendo usados. Evolução não é título, é mentalidade, cultura. Em anos à frente, estaremos em um patamar muito maior.
Você tem um objetivo em relação à base para os seus próximos anos de mandato?
Nosso objetivo hoje é acabar o CT da base. Fizemos os campos e vamos dar início à parte de alvenaria, dos prédios. Quero ver se dentro do meu mandato conseguimos concluir. Vamos ter uma mudança de patamar gigante estando junto ao profissional, com a mesma metodologia. Quando o garoto vier, já estará adaptado à forma que o profissional joga. Eles vão chegar mais prontos do que chegariam hoje. Uma das minhas prioridades é acabar o CT da base.
CT base Corinthians (Foto: Marcelo Braga)CT da base do Corinthians já tem grama plantada (Foto: Marcelo Braga)
Está satisfeito com o futebol brasileiro como ele está hoje?
Tudo cabe melhora. Está bom, ótimo, mas pode melhorar. Tem muita coisa que pode ir arredondando. Enquanto não mexerem na Lei Pelé, por exemplo, será difícil. O clube perdeu a defesa aos meninos da base. Perde jogador porque o financeiro fala mais alto. Tudo aquilo que você investiu ao longo do tempo de um garoto que chega com 10 e vai embora aos 16, você perde, tem recuperação zero. Isso tinha de ser revisto, é uma proteção que o clube devia ter.

Acha que vão conseguir vender o Alexandre Pato nesta janela de transferências?
A resposta não mudou. A janela vai abrir e a ideia é que a gente negocie, se não negociar ele vem jogar, tem contrato conosco. Se não vender, volta. Pode gostar, não gostar, o outro pode não gostar, mas não tem jeito, tem contrato. Qual a preferência? Que negocie. Dele também. Se não negociar, no dia 6 de janeiro estarei aqui (no CT) esperando para cumprimentá-lo.

Giuliano Bertolucci e Kia Joorabchian estão tentando vendê-lo?
No mercado todo mundo trabalha, aquele que vender ganha comissão. Não tem um único empresário trabalhando nisso.
Gostaria que ficassem todos para termos um grupo forte o ano todo. Se passar por essa janela, tropeçamos na outra. Hoje não tem proposta, mas em meia hora pode chegar um e-mail solicitando algum jogador. Não dá para cravar
Roberto de Andrade, sobre o assédio aos principais jogadores do Corinthians
Acha que o Corinthians vai perder muitos titulares nesta mudança de ano?
Não sei se vamos perder. Gostaria que ficassem todos para termos um grupo forte o ano todo. Se passar por essa janela, tropeçamos na outra. Hoje não tem proposta, mas em meia hora pode chegar um e-mail solicitando algum jogador. Não dá para cravar nem que vão ficar nem que vão sair.
Estão conseguindo pagar as parcelas de R$ 5 milhões do BNDES?
Estamos pagando, o que importa é cumprir nossa obrigação.
E a venda dos naming rights, vai sair?O negócio é tocado exclusivamente por mim. Não tenho ajudante, intermediário, secretário ou algum outro nome que queriam. Não tem, eu trato diretamente. Todas as reuniões sou eu que faço. Tudo o que você ouvir por aí, desconsidere...
Já foram faladas em várias empresas...
O que mais tem é isso aí, falatório. O galo canta e ninguém sabe onde, mas estão falando. 
Instituição financeira, indústria automobilística, companhia aérea...
Um negócio desse aí. Sei lá.
Dá para ganhar mais taças em 2016, de repente até com peso internacional?
Espero, é o nosso objetivo. Todo torneio que o Corinthians participa, quer ganhar. Espero que nunca seja diferente. Isso tem de estar na mente desde a pessoa que te recebe no clube ao comando maior, que hoje sou eu. Estamos aqui para trabalhar, servir o clube e chegar a títulos.

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