terça-feira, 1 de dezembro de 2015

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Análise: por que Neymar não é só mais um convidado na festa de Messi e CR7

Brasileiro pode sonhar com o segundo lugar na Bola de Ouro e iniciar "passagem de bastão" graças ao crescimento durante a ausência do argentino e queda do português

Por Rio de Janeiro
Lionel Messi tem desde 2007 uma cadeira cativa no Kongresshaus, em Zurique. Com Cristiano Ronaldo o tratamento é parecido – a ausência em 2010 passa quase despercebida. Eles costumam subir ao palco, receber prêmios, dedicar um par de palavras aos companheiros e fãs e, em algum caso, até mesmo extravasar. A Bola de Ouro da Fifa é, desde então, uma festa para o argentino e o português – ou você lembra o que fizeram Fernando Torres, Xavi, Iniesta, Ribéry e Neuer na cerimônia além de aplaudir?


Neymar deve fazer o mesmo em janeiro. Ser o melhor jogador do mundo ainda soa exagerado pelo que os sobrenaturais produziram no ano letivo da Fifa (22 de novembro de 2014 até 20 de novembro de 2015). Ele mesmo reconhece que o objetivo (cumprido) era estar entre os três. Mas, entretanto, todavia, o brasileiro deixa a sensação de que fincou seu nome ali. Não é só mais um convidado por um ano excepcional; é aquele que ameaçará de alguma maneira o reinado da dupla e que pode iniciar o processo de “passagem de bastão” entre gerações.
Neymar Barcelona (Foto: Reuters)Deixaram chegar... Neymar é finalista da Bola de Ouro pela primeira vez (Foto: Reuters)

Para os eleitores da Bola de Ouro, Neymar teve o seu melhor ano em 2013. Foi o quinto, impulsionado pelas exibições com o Brasil na Copa das Confederações e primeiros meses deBarcelona. Apesar de ser uma premiação unicamente individual (ao menos a intenção era essa), os feitos coletivos são bastante valorizados - não à toa Neymar foi o único jogador do futebol sul-americano a atingir o top-10, em 2011, depois de conquistar a Libertadores com o Santos.
Info Cards finalistas bola de ouro Neymar (Foto: Editoria de arte)
Este é um ponto que favorece Neymar em relação a Cristiano Ronaldo – e me faz acreditar até que há chances de superá-lo (veja bem: é uma possibilidade, não certeza). O Barcelona conquistou quatro de cinco títulos no período (o Mundial de Clubes será disputado apenas em dezembro, no Japão): Campeonato Espanhol, Copa do Rei, Liga dos Campeões e Supercopa da Europa. Se não jogou contra o Sevilla, o brasileiro também foi desfalque na derrota para o Athletic de Bilbao, pela Supercopa da Espanha, enquanto esteve fora por conta de uma caxumba.

Neymar foi extremamente decisivo em todos os confrontos de mata-mata a partir das quartas de final, marcando contra Atlético de Madrid (dois), Villarreal (dois) e Athletic Bilbao (um) na Copa do Rei - foi o artilheiro, com sete gols; e sobre Paris Saint-Germain (três), Bayern (três) e Juventus (um) na Liga dos Campeões - foi o artilheiro com os mesmos dez gols de Messi e Cristiano. Em resumo: esteve longe de ser um coadjuvante, apesar dos números totais menores.
Info Cards finalistas bola de ouro Messi (Foto: Editoria de arte)
Info Cards finalistas bola de ouro Cristiano Ronaldo (Foto: Editoria de arte)


Neymar, na verdade, foi protagonista. Os que não se apressaram em votar cedo devem ter sido praticamente coagidos a colocarem o brasileiro entre os três diante da sequência em altíssimo nível sem a companhia de Messi. Ele e Suárez chegaram a marcar 18 gols consecutivos do Barça no Campeonato Espanhol até o chutaço de Iniesta no Santiago Bernabéu (no geral, contabilizando Liga dos Campeões, foram 22 dos 25 gols da dupla). O brasileiro fez 11 e lidera a tabela de artilheiros do Espanhol com 14. Vive a melhor fase da carreira.
Neymar Cristiano Ronaldo Barcelona Real Madrid (Foto: Getty Images)"Bem-vindo" ao clube: Cristiano Ronaldo e a piscadinha para Neymar (Foto: Getty Images)
O brasileiro cresceu de produção justamente no período final da eleição – com Messi em campo, só havia balançado a rede em três de oito jogos; depois, subiu para sete de 13, em quatro marcando mais de um gol. Cristiano Ronaldo sabe que o momento influencia, e com certeza lembra de 2013, quando suas atuações na repescagem das eliminatórias da Copa do Mundo contra a Suécia foram fundamentais para que acabasse superando Messi. A disputa foi apertada na ocasião, com uma diferença de apenas 3,27% dos votos a favor do português.

Neymar também aprendeu a participar mais do jogo. Em toda a temporada 2014/15 do Espanhol, ele teve uma média de 48,2 toques na bola por partida. O cenário foi bastante distinto com o argentino ausente: 77 contra o Bayer Leverkusen, 82 (Sevilla), 72 (Rayo Vallecano), 103 (BATE), 82 (Eibar), 105 (Getafe), 115 (BATE) e 95 (Villarreal). No sábado, diante do Real Sociedad, ele chegou aos 130 toques somente dentro da área nesta edição do Espanhol, um recorde em todas as cinco principais ligas da Europa.

Sua área de atuação, naturalmente, expandiu. Neymar saiu do seu habitat natural na ponta esquerda e passou a infiltrar mais pelo meio, aparecendo para tabelar e concluir nas proximidades da área. Ajudou a construir o jogo do Barcelona com total liberdade de movimentos, papel semelhante ao designado a Messi (compare os mapas de calor nos jogos contra BATE Borisov e Roma pela Champions).
Mapas de calor Neymar Barcelona (Foto: Reprodução / Martí Perarnau)Com e sem Messi: mapas de calor de Neymar contra Levante, BATE Borisov e Eibar (Foto: Reprodução / Martí Perarnau)


Outro argumento pró-Neymar: o site especializado “WhoScored” avalia as atuações de cada jogador nas principais ligas da Europa – o critério é mais objetivo que subjetivo, já que utiliza diversas estatísticas, como percentual de passe, dribles, finalizações, desarmes, etc. O brasileiro é o primeiro, com média de 8,3 em 12 jogos. Messi vem logo atrás dele, com 8,2, enquanto Luis Suárez é o sexto, com 7,95. Sentiu a falta de Cristiano Ronaldo? É “apenas” o 36º, com 7,54. Para não passar batido: Douglas Costa, do Bayern, é o quinto, com 7,98, Marcelo é o 15º, com 7,77, e Raffael, do Borussia Mönchengladbach, é o 16º, com 7,76.

A fase do português, de fato, não é das melhores para seus exigentes padrões. Ele marcou nove gols em 13 rodadas do Espanhol, mas cinco deles num único jogo (Espanyol). Ou seja: são apenas cinco jogos balançando as redes, menos da metade. Como foi utilizado mais como camisa 9 (é letal nas finalizações), sua produtividade em passes também caiu - tem os piores registros desde a temporada 2012/13 (duas assistências, contra cinco de Neymar na liga espanhola).
Neymar Barcelona (Foto: Getty Images)Os "haters" podem chorar... Neymar vive a melhor fase da carreira e acumula gols e boas atuações (Foto: Getty Images)


Em entrevista à britânica “ITV” há duas semanas, Cristiano Ronaldo já se mostrava convencido de que não brigará pela Bola de Ouro.

- Para ser honesto, acho que o Messi vencerá neste ano porque esse tipo de prêmio se decide pelos votos. Você vence competições, vence a Liga dos Campeões, vence a liga espanhola... Eu provavelmente fiz a melhor temporada da minha carreira, o que é bom, e fui o artilheiro da Europa, mas é tudo questão de votos. É difícil e, para ser honesto, não estou tão preocupado porque, como já disse muitas vezes, nunca pensei em vencer esse prêmio três vezes. E eu já consegui – disse o camisa 7 merengue, contabilizando os números gerais da temporada 2014/15. Ele marcou 48 gols no último Espanhol e faturou a Chuteira de Ouro.

Quer mais números? Neymar tem apenas 23 anos. Há tempo de sobra para também se tornar um sobrenatural e ganhar uma cadeira com seu nome em Zurique. A festa está só começando...

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